2014-10-27 15:20:17 (UTC+02:00) Harare, Pretoria
Bom dia!
Por Paula Ferreira
Creio que nunca ouvi num outro país com a minha língua, ou com outra língua, responder a uma saudação “Bom dia!...” com um “Bom dia, obrigado!” Agradecem-se os votos de algo bom que possa acontecer durante o dia. Não é bonito? Isto acontece aqui na nossa terra, frequentemente quando entramos num elevador, ou numa sala onde não conhecemos as pessoas, ou em muitas outras circunstâncias. É saudável, é bonito, é positivo. Transmite uma energia positiva importante. Eu, pelo menos, sinto-a.
Mas esse “obrigado” geralmente é dito pelas pessoas mais velhas, é mais raro ouvi-lo dos mais jovens. Isso significa que o hábito se está perdendo, mas penso ser um dos nossos valores culturais a preservar fortemente. É uma característica muito nossa, única no mundo... Será? Se não for alguém que me diga, por favor!
E reflectindo um pouco mais sobre o assunto, porque desejamos um bom dia? Qual a origem dessa expressão, que se diz em todo o mundo e em todas as línguas,(é das primeiras palavras que aprendemos quando estudamos uma língua diferente e, por vezes as únicas palavras que sabemos dizer numa língua diferente!)?
Dizemos a expressão como uma saudação ou como uma despedida porque o aprendemos dos nossos pais e professores, como uma forma de mostrar boa educação. Na escola primária quando o professor entrava, dizíamos em uníssono: Bom dia, senhor(a) professor(a)!... Mas porquê?
Não há dúvidas que se trata duma expressão importante. No entanto, cada vez mais ela é dita duma forma mais ou menos mecânica e rotineira, com mais ou menos entusiasmo. Muitos dizem “Bons dias”, outros dizem “Muito bom dia”, acompanhada dum sorriso, ou não, com uma voz mais forte, mais fraca ou mais seca. Qual será mesmo a origem desta saudação?
Fui ao Google e a única explicação interessante que encontrei, foi no seguinte blog: http://www.blogdopedroeloi.com.br/2013/04/bom-dia-bom-dia-em-torno-do-seu.html donde transcrevo literalmente com a devida vénia:
Do livro de Leonardo Boff, “Saber cuidar - Ética do Humano - Compaixão pela terra”:
"Júpiter é a divindade central da religião romana. É o deus criador do céu e da terra,dos deuses e dos seres humanos. Talvez a filologia da palavra Júpiter nos desvende a experiência que seu nome oculta. Por detrás da palavra Júpiter se esconde a partícula “jou”provinda do sânscrito “dew” que significa luz, brilho e claridade. “Piter”, presente em Júpiter é a fórmula antiga de “pater”, pai. Júpiter significa então o pai e o senhor da luz. Da raiz sânscrita “dyew” subjacente à língua grega, latina, germânica, céltica e lituana, proveio Deus e dia. Deus neste contexto remete a uma experiência de luz. A luz com seu brilho e calor constitui uma das experiências frontais da psique. Ela corporifica o sentido e a alegria de viver, de discernir na multidão o rosto da pessoa amada, de ver o esplendor da natureza e das estrelas, de identificar um caminho e de livrar-se da angústia da escuridão e da errância. Desejar um "bom-dia" a alguém significa, originariamente, desejar-lhe um bom deus e muita luz em seu caminho. Quem guarda hoje em dia ainda essa memória sagrada, presente numa expressão tão corriqueira como "bom-dia"?”
Sinceramente não consigo ver a lógica da explicação dada mas não encontrei outra melhor. Deverá, eventualmente, requerer o estudo do pensamento de Leonardo Boff. Talvez o faça.
Mas não tenho quaisquer dúvidas que é importante que saudemos com quem nos cruzamos no dia-a-dia e ainda mais importante que nos respondam com um “obrigado” e com a mesma saudação de volta. Afinal alguém está a manifestar um cuidado que tem conosco e por tal devemos ser gratos e desejar o mesmo para esse alguém.
Espero que tenha conseguido incutir no leitor um maior respeito pelo “Bom dia” e que quando o deseje a alguém não o faça mecanicamente, mas com a energia necessária para que o dia seja realmente bom para a outra pessoa. E responda a quem lhe deseje um bom dia com um “obrigado”. É um valor que é só nosso. Vamos garantir-lhe a continuidade no tempo.
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