Folha de Maputo
2015-01-27 08:15:19 (UTC+02:00) Harare, Pretoria

Nampula-Nacala: uma viajem para esquecer

De repente nos finais do ano passado vejo-me de novo na cidade de Nampula. Estou ali numa escala de um dia para depois ir a Nacala, onde ia participar na cerimónia de inauguração do novo e bonito Aeroporto Internacional.

Estivera na chamada capital do norte em Outubro também do ano passado por altura da campanha eleitoral. Nampula que vi em Outubro não tem nada a ver com o que vejo em finais de Dezembro.

Em Outubro havia muitos forasteiros em Nampula caçando voto nesta buliçosa cidade do norte do nosso pais.

Agora, em Dezembro o que sinto é indiferença. Ninguém praticamente liga ao facto de haver inauguração do Aeroporto pelo então presidente da República, Armando Guebuza, ali perto, cerca de 200 quilómetros. Todos os caminhos iam dar a Nacala, mas as gentes de Nampula, pouco ligam a este assunto.

Eu desembarquei numa manhã de sexta-feira e o evento seria dia seguinte, portanto sábado. Como sempre procuro ver alguns familiares e amigos. Uma ligação para aqui e para acola à procura da minha gente.

Telefono para a minha amiga e colega de longa data a Rosa Inguane, da Rádio de Moçambique, para acautelar as questões profissionais,

Ela me garante que sábado de madrugada vai haver um “mini-bus” para Nacala, “organizado’ pelo Governo local e que iria transportar os jornalistas ida e volta. Ela já estava em Nacala por incumbência profissional.

Fico feliz ao saber da disponibilidade desse meio de transporte. À noite, outros amigos me garantem que os “chapas” que fazem a ligação entre Nampula e Nacala e vice-versa.

“São confortáveis e em duas horas chega-se a Nacala. Não precisas de acordar de madrugada, pá”, aconselha-me um dos meus amigos. Eu acredito, mas faco perguntas de insistência, pois não queria perder a cobertura jornalística de tamanha importância, quanto mais não seja por ter sido a razão da minha viajem. O meu trabalho em Nacala começava às 13 horas, de acordo com o programa distribuído pelo protocolo do Governo local.

Decidi sair de Nampula `as 10 horas. Fui levado ao terminal rodoviário dos CFM-norte. Entro num “mini-bus” de 15 lugares. Descubro que não havia conforto nenhum, e antes de partir sinto um incómodo. Sentado no último banco, quase que não consigo mexer as pernas.

Decido ficar conformado com a situação e disse de mim para mim. “Ficaste a dormir mais algumas horas, agora pagas”. Considerava que eu é que era o principal culpado, não tinha que me queixar. Finalmente o carro parte a uma grande velocidade. O motorista é um jovem cheio de adrenalina. Fico com medo de a todo o momento estar envolvido num acidente.

A estrada é impecável o que convida o jovem motorista a acelerar sem cessar. Felizmente não faz manobras muito perigosas. Reduz a velocidade nas curvas, mas quando está diante de uma recta não tira o pé do acelerador.

No “chapa” para além de mim viajam homens, mulheres e crianças. Ninguém reclama e acredito que aquilo tudo é normal.

Para me distrair ligo o meu computador. Conecto auscultadores e escuto música. Ouço o músico sul-africano, o Ringo. Gosto muito do Ringo, e fico aéreo, apesar do intenso calor, apesar de não puder mexer as minhas pernas de tão apertado que estava.

De vez em quando alguém me liga. Páro de ouvir música e falo, rio-me com as pessoas com as quais converso ao telefone. Descubro que os restantes passageiros notam que sou novato naquelas andanças. Chego a esta conclusão pela forma como esporadicamente tentam lançar olhares sobre mim.

A viajem para Nacala nunca mais termina. O carro pára em Namialo. Desembarcam alguns passageiros, mas embarcam outros em número superior. Fico desesperado, mas nem se quer reclamo. Temo pelas consequências em território alheio. “Se fosse em Maputo, o cobrador e o motorista deste carro haviam de me ouvir muito bem. Não costumo tolerar este tipo de situação. Reclamo, mesmo ciente de que por vezes é em vão. ”, penso em surdina.

Finalmente, chego a Nacala, perto das 13 horas, debaixo de um calor abrasador. Fica claro que muito coisa má que se passou durante a viajem decido omitir por economia de tempo e espaço.

Pego num táxi que me leva até ao no Aeroporto Internacional de Nacala, onde lá dentro desfruto de ar condicionado e de bebidas frescas e da companhia de um sem número de conhecidos vindos de Maputo.

Oiço música dos meus amigos Roberto Chitsondzo e de Esaú Menezes. Sento-me na mesa onde estava também sentada a cantora da banda Kakana, Yolanda Chicane. Ponho conversa banal e descontraída com ela. Enfim, a minha condição acaba de dar uma viragem de 180 graus. À noite, mesmo ali em Nacala, apanho avião e regresso a Maputo. Nem queria acreditar.

Mas, escrevo estas linhas inspirado no que ouvi do novo ministro dos Transportes e Comunicações, Carlos Mesquita, logo depois de ter tomado posse.

Cito de memória: “o transporte público é uma das prioridades”. Eu queixo-me do facto de ter sido mal transportado no “chapa” Nampula-Nacala. Imagina caro leitor ser transportado nos carros de caixa aberta, nestes dias em que abundam as chuvas.

Imagina ser transportado em carros de caixa aberta no tempo de frio, à noite…e com chuviscos.

Não imagino que tipo de soluções Mesquita vai encontrar. Que sejam mágicas, mas deve haver soluções.

Na minha modesta opinião o Estado pode reactivar os antigos ROMOS, ROMOC e ROMON. Para os mais que não sabem o que significam estas siglas, lembro-lhes ou informo que eram empresas públicas de transporte de passageiros nas zonas sul, centro e norte do país. ROMOS, por exemplo, significava Rodoviária de Moçambique Sul.

Eram empresas que tinham autocarros adquiridos no Brasil, se a memória não me falha e prestavam um serviço aceitável (e em segurança) de transporte de passageiros entre as províncias destas três grandes regiões geográficas de Moçambique (sul, centro e norte). Agora os tempos são outros. As necessidades são outras.

Mas, as coisas não podem continuar assim. É inaceitável que o transporte de passageiros entre as principais cidades moçambicanas seja confiada apenas a privados, que não sabem cumprir com os horários, nas cuidam da segurança de passageiros, e não fazem destrinça entre pessoas e caga.

Outra alternativa seria a reintrodução de navios de cabotagem de transporte de passageiros. Este tipo de meios de transporte tem a desvantagem de ser lento, mas tem a vantagem de transportar muita gente ao mesmo tempo. Transportam também muita carga e as passagens são baratas. Bom, são lucubrações de um leigo na matéria, mas são ideias que julgo que são válidas, pois noutras partes do mundo tem sido válidas. Mãos à obra senhor Engenheiro Mesquita.
Nampula-Nacala: uma viajem para esquecer
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